Preservar e valorizar o patrimônio imaterial mineiro que é a Cerâmica Saramenha. Este é o principal objetivo das atividades realizadas dentro do projeto “Cerâmica Saramenha II”, que teve início em 2023. E, para preservar e valorizar, é preciso divulgar: através do projeto, pessoas das mais diferentes idades, credos, etnias - ou qualquer outra situação que as classifique - são foco de ações que buscam apresentar a Cerâmica Saramenha.

 

Ao longo de 26 anos, vem sendo construído um processo de resgate da Cerâmica Saramenha, sua história e modo de fazer, dando visibilidade e buscando agregar à comunidade da região de Ouro Branco o valor deste patrimônio. Entretanto, nas duas últimas décadas, as ações se mantiveram por meio de iniciativas diversas, parcerias, patrocínios diretos e investimentos próprios. Mas, desde 2022, as ações puderam seguir por novos caminhos, com a realização do Governo de Minas, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, com o patrocínio da Gerdau e a gestão e produção da Agência de Desenvolvimento Econômico e Social dos Inconfidentes e Alto Paraopeba (Adesiap).

 

Por muitas décadas, a Cerâmica Saramenha sofreu a diminuição significativa de sua produção e visibilidade, tendo sido, por algum tempo, considerado extinto o seu modo de produção tradicional. Por isso, o conhecimento sobre sua história, técnica e a importância de sua proteção, bem como as ações de resgate e divulgação tornam-se tão importantes neste cenário. Valorização é uma palavra-chave nesse contexto, pois é através da valorização que desperta-se o interesse e o respeito pela arte.

 

Ações de difusão da Cerâmica Saramenha para públicos diversos, como vivências escolares, visitas guiadas e palestras, permitem cumprir os objetivos iniciais de ampliar o conhecimento sobre sua história, técnica e a importância de sua proteção. Vale lembrar que o Mestre Leonardo Ricart, integrante da equipe deste projeto e, atualmente, um dos últimos detentores da técnica de produção da Cerâmica Saramenha no mundo, se interessou pela prática em ação semelhante de compartilhamento de saberes realizada na década de 90. Isso deixa claro a importância da divulgação e da sensibilização do maior número possível de pessoas, uma vez que não se sabe qual alma poderá despertar o amor por esta técnica.

 

Vivências escolares

 

As escolas são um ponto de destaque nessas ações educativas. Alunos dos ensinos fundamental e médio (entre 8 e 18 anos) e professores de escolas da rede pública de Ouro Branco/MG, especialmente da zona rural, totalizando cerca de 5 mil pessoas, participam das vivências escolares, momentos únicos em que a arte é levada para dentro desses ambientes, com a presença do Mestre Leonardo Ricart e o contato direto do público com a matéria-prima e o modo de fazer da cerâmica.

 

Direcionar grande parte dos trabalhos para as escolas da rede pública da zona rural é uma forma de democratizar o acesso e abrir espaço para novas possibilidades, propiciando o ambiente para a formação de futuros mestres da Cerâmica Saramenha. Inclusive, é na zona rural onde o barro (argila) é encontrado mais facilmente, o que pode despertar mais interesse entre os participantes.

 

As vivências escolares são atividades de grande importância, por ser a escola um ambiente onde se fomenta o conhecimento e a valorização da cultura – e a importância dos patrimônios materiais e imateriais dentro da história e cultura locais. E a Cerâmica Saramenha, como um bem cultural de tamanha importância, chega, desta forma, ao conhecimento das futuras gerações. As intervenções contam com a presença de um profissional da área da pedagogia e ações lúdicas adequadas à faixa-etária dos estudantes.

 

Durante as vivências escolares, as crianças e adolescentes entram em contato com informações sobre a história da Cerâmica Saramenha, sobre as louças na época do império, sua importância, a modelagem do barro (argila) e instrumentos utilizados. O ponto alto da vivência é a prática, onde o público pode vivenciar a lida com o barro (argila), modelando uma peça.  

 

Livro

 

No primeiro ano de execução do projeto, em 2022, foram trazidas ações de difusão da Cerâmica Saramenha para públicos diversos, com resultados satisfatórios que permitiram aos envolvidos avançar para novas ações em 2023. Entre as novas ações, está a concepção de um livro, que trará o registro da história, técnica e importância da Cerâmica Saramenha.

 

Por meio da produção editorial e programação complementar pretendida, será possível sistematizar a transmissão de conhecimento da técnica, até então realizada diretamente pelos mestres aos aprendizes e, em muitos casos, mantidas como saber familiar passado de geração em geração. O livro terá tiragem inicial de 800 exemplares, e há a pretensão de distribuição gratuita de 100% de sua tiragem para grande diversidade de espaços e pessoas, além de um evento de lançamento na cidade de Ouro Branco.

 

A produção do livro faz parte de todo um processo robusto de resgate e valorização da Cerâmica Saramenha, permitindo manter suas características na transmissão de conhecimento da história, executando importante forma de divulgação e de sensibilização junto ao público. A proposta também tem o propósito de fomentar a cena cultural de Ouro Branco, valorizando um importante patrimônio imaterial do município.

 

A realização de pesquisa e coleta de informações e documentos, com pesquisa e levantamentos históricos e iconográficos, além de registros fotográficos são etapas para a produção do livro. O material trará informações diversas sobre a história, a técnica, as medidas de proteção e valorização, assim como fotografias e documentos históricos.

 

O trabalho de produção do livro vem para garantir um registro de qualidade, desenvolvido com a estrutura e atenção necessárias para oferecer ao público uma publicação que contará a história, a técnica, as características e os esforços para que a Cerâmica Saramenha e sua produção se mantenham vivas.  Além de cooperar com a transmissão de conhecimento e saberes a respeito da Cerâmica Saramenha, o livro vem para coroar todo o processo de resgate e valorização, tendo o intuito de fortalecer a possibilidade de aprendizado e do reconhecimento deste patrimônio.